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Dois Corregos, um abandono.

 

A LUTA DA OSAFF POR UMA ESTAÇÃO FERROVIÁRIA

Heusner Grael Tablas

UM PATRIMÔNIO HISTÓRICO ABANDONADO

         A estação ferroviária de Dois Córregos sempre foi considerada uma das mais belas do interior de São Paulo, tanto que o cineasta Carlos Reichenbach a escolheu como cenário para os longas-metragens "Alma Corsária" (premiado no festival de Brasília, em 1994) e "Dois Córregos" (premiado no festival de Gramado, em 1999, com música de Ivan Lins e tendo Carlos Alberto Ricceli no papel principal).

         A beleza dessa estação gerou até uma lenda: a de que ela seria uma cópia fiel da primeira estação de Marselha, na França, destruída por bombardeios durante a segunda guerra mundial.

         Hoje, entretanto, a estação de Dois Córregos é uma autêntica ruína. Vítima de incêndio em 2001, nunca as autoridades locais colocaram uma só colher de reboco no prédio, pois as conveniências políticas andaram sempre em primeiro plano, e assim o patrimônio cultural acaba por conta do acaso. Da belíssima fachada, ainda em pé, mas agora representando um mero espectro de um passado de glória, ainda restam os contornos dos alto-relevos, porém ela está aguardando a derradeira ventania para finalmente desabar e impedir de vez a chance de uma restauração.

         O antigo bebedouro de água para cavalos, de concreto, sobrevive intacto defronte do prédio, como um monumento especial e sem igual em nenhuma outra estação ferroviária.

A OSAFF TRABALHOU PELA ESTAÇÃO

         Por volta do ano 2000 tiveram início os contatos entre a ONG OSAFF e a Prefeitura de Dois Córregos com o objetivo de restaurar a estação. A OSAFF desenvolveu um projeto minucioso e completo, pois convocou profissionais da Cultura e arquitetos - e estes assinaram uma importante planta arquitetônica para a devida revitalização da estação ferroviária.

          Além disso, a OSAFF conseguiu, junto ao Ministério da Justiça, uma verba de R$ 300 mil para dar início a obras urgentes na estação, porém houve mudança de governo no município, sendo que o prefeito seguinte não aceitou receber a verba.

          No pleito posterior o mesmo prefeito foi reeleito, governa até hoje, mas estranhamente continuou ignorando o dinheiro conseguido pela OSAFF, de modo que a punição a esse patrimônio cultural da cidade prosseguiu. A alegação era que a prefeitura não poderia empregar recursos em um prédio pertencente a um órgão federal. A estação, entretanto, já havia sido tomba da pela Câmara Municipal com a aprovação do Executivo, o que daria condições de legalizar a participação da prefeitura na reforma do prédio, bastando que as normas da lei federal de tombamento fossem seguidas. 

          No ano de 2009 o prefeito ganhou da ferrovia um documento de posse da estação, porém não encontrou nenhum patrocinador para a restauração do prédio, continuando também a evitar o diálogo com a OSAFF e a desprezar os R$ 300 mil. Desse modo, um problema que havia sido criada pela Prefeitura, por não adquirir o imóvel da ferrovia em 1999, quando esse lhe foi oferecido a preço baixo e em módicas prestações, vem até os dias de hoje, já que o atual governo demora a acenar pelo menos com uma ilusão positiva, o que é uma pena.

BREVE HISTÓRIA DO INÍCIO DA ESTAÇÃO

         Em São Paulo o desenho das ferrovias copiou os antigos caminhos dos bandeirantes, levando em consideração os cinco grandes vales paulistas. Assim sendo, o ramal de Dois Córregos com sua estação - inaugurada em 7 de setembro de 1886 -, era um pequeno ponto nesse grande projeto, cuja finalidade principal seria o de facilitar o escoamento da produção cafeeira ao porto de Santos - o que de fato ocorreu.

         Em 1912 a antiga estação de Dois Córregos deu lugar a um novo prédio, bem mais imponente, para sediar a 4a Divisão da Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Além da construção da sede anexa à nova estação, as obras incluíram residências para engenheiros e subalternos dentro da área pertencente à ferrovia, de modo a abrigar um grande número de funcionários.

         Até por volta de 1970, ainda era possível apreciar, quando o trem cruzava os campos de Itirapina, bandos de emas selvagens correrem assustadas com o barulho da composição. Mas a desativação estava próxima; a falta de investimentos na malha ferr oviária e o empreguismo dos governos estaduais sucatearam a ferrovia, cujas estações interioranas foram fechadas no apagar das luzes do século XX. Algumas prefeituras correram a adquirir suas estações em 1999, realizaram restaurações e transformaram esses espaços em centros de cultura, mas infelizmente não foi isso o que aconteceu com a outrora admirável estação de Dois Córregos - "cópia fiel da primeira estação de Marselha, da França".

Heusner Grael Tablas - é escritor e ficcionista com vários prêmios literários,

Além de livros publicados sobre a história e as lendas de Dois Córregos.